sábado, 6 de março de 2010

Princípios do ano de 1970 ou 71, não recordo e nem isso é muito importante, eram cerca das 4 da manhã, a camarata dos Cabos Milicianos da PA ficava junto ao portão onde tinha um canil com cães Galgo (fazem parte do emblema da BA3) e a bomba da gasolina.
Invariavelmente os os clarins aproveitavam a sombra do hangar para ali ensaiarem os toques.
O que separava a minha camarata do hangar era apenas a rua, ou seja, não mais do que uns míseros 15 metros.
Algum pessoal tinha acabado de chegar de fim-de-semana, quando aconteceu o que menos se esperava, parecia um tremor de terra, o pessoal veio à porta e o espectáculo era dantesco, as labaredas irrompiam pelas janelas do hangar e atingiam mais de 30 metros de altura, foi uma verdadeira desgraça, todas as aeronaves que se encontravam dentro do edifício foram pasto das chamas, mais tarde, quando pudemos observar de perto, os helicóptros não eram mais do que uns montinhos de alumínio fundido no chão, até arrepiava, como era possível máquinas aparentemente tão volumosas ficarem naquele estado e com aquelas dimensões.
Naquele tempo, as aeronaves eram parqueadas devidamente atestadas para que no dia seguinte não se estivesse a perder tempo com esse trabalho, o que complicou ainda mais a situação, não sei se ainda hoje é assim.
Tudo fugiu minha gente à procura de um lugar mais seguro, foi por isso que eu falei na tal bomba de gasolina, que felizmente não pegou fogo.
Com a explosão, que ao principio pensamos ser devido a algum curto-circuito ou coisa idêntia, os portões do hangar saíram dos deslizantes e não se conseguiam abrir, e entretanto rompera o dia e a confusão instalou-se com cada um a dar largas à sua imaginação.
Vieram os serviços de investigação militar para tomar conta da ocorrência, mas possivelmente por falta de meios, experiência ou competências, parece que não chegaram a lado nenhum, apenas se soube que das nove bombas, apenas tinham rebentado três (essa foi a informação que correu).
A seguir veio a PIDE ou DGS, já não me lembro como se chamava na altura e começaram as investigações à maneira deles e, passados poucos dias, o co-autor dessa "proeza", um Cabo Milº. Piloto de nome Ângelo, salvo erro, encarregou-se de facilitar a entrada na Base de um Sargento e um civil, especialistas na matéria e pertencentes ao ARA (Acção Revolucionária Armada) penso que ligada ao PCP.
Quando mais tarde tivemos acesso ao local, aquilo até metia aflição, era inacreditável como aparelhos com aquela volumetria, ficaram reduzidos a montinhos de alumínio fundido sem grande expressão.
Criou-se um clima de desconfiança terrível e todos pediam a Deus para não fazerem parte do lote dos suspeitos, de referir que isto foi passado no tempo da outra senhora.
O camarada Ângelo pressentiu que o cerco se estava a apertar e em nome da liberdade, deu corda aos sapatos e para uns Argélia para outros Checoslováquia a verdade é que nenhum de nós lhe pôs mais a vista em cima.
De algum modo, directa ou indirectamente, todos acabamos por levar com os estilhaços das bombas, passamos a "alinhar" sem dó nem piedade e alguns fora transferidos, até o Comandante.
Em 1973, em Moçambique, cidade da Beira, quando me refastelava com um gelado como só a Gelataria Mexicana sabia fazer, um amigo apresentou-me um agente da DGS que tinha feito parte do pessoal da investigação ao caso das bombas e me contou com eles tinham chegado até ao Ângelo, mas isso fica para outro episódio por causa do adiantado da hora.


Anónio Loureiro

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