sábado, 6 de março de 2010

COISAS DO ARCO DA VELHA..... 1974

Em finais de 1974, ao meu Grupo, coube-lhe como missão, o patrulhamento, emboscada e recolha de informação militar na fronteira com a Zâmbia, mais propriamente na zona do Parque Natural de Mana Pools.
O que servia de linha de fronteira era o Rio Zambeze e como todos os Parques Naturais, são áreas protegidas.

Era uma operação de 1 mês com reabastecimento por helicópetero de semana a semana.
A mata era pouco densa bem ao jeito das manadas dos elefantes, zebras, búfalos, leões, onças e gazelas em quantidades exorbitantes, onde á água há vida e ali era coisa que não faltava.

Um dia antes da partida, eu e o meu amigo Santos, sacrificámos duas camisas camufladas para o alfaiate nos fazer uns chapéus de aba larga que o “infeliz”, coitado, por mais cordões de ponto em zig zag que fizesse, nunca conseguiu por a aba com a consistência que nós pretendíamos e como tal, acabámos por aceitar a obra como foi possível fazer.

Talvez na segunda semana, já não me consigo recordar, íamos em bicha de pirilau, naquela altura chamava-se assim, agora é mais complicado porque ainda aparece algum bicha sem pirilau e arranja uma confusão levada dos diabos, enfim, modernices.
Neste tipo de formação, a distância é maior ou menor consoante a densidade da mata e nós, por questões de segurança, tudo fazíamos para evitar andar em campo aberto para não sermos detectados.

Todos os cuidados eram poucos e a segurança fazia parte das nossas prioridades, a distância entre nós era de primordial importância de modo a que, em caso de cairmos em emboscada do inimigo, a primeira rajada tivesse poucas hipóteses de atingir mais do que um elemento.
A determinada altura, o cabeça de fila abaixou e todos fizeram o mesmo ficando à espera de comunicação e a coisa funcionava bem apesar dos 100 metros que separava o primeiro do último.

A informação chegou: elefante solitário à frente.

Como são bichos que por qualquer razão são expulsos das manadas, normalmente atingem tamanhos maiores do que os outros e são muito mais desconfiados e perigosos.
Nesta situação, os homens da frente tiram um carregador da cartucheira e começam a bater na arma, choq, choq.....choq, choq.....choq, choq e sempre assim.
Porque o ruído metálico é uma coisa nova para os seus ouvidos, têm um certo receio e se não vêem ameaça do intruso, acabam por ir embora, mas nunca fiando, as reacções nem sempre são iguais e era preciso estar atento.

A minha equipa era a última e eu comecei de imediato a ver uma posição mais favorável para me safar se as coisas dessem para o torto, e lá vi uma pedra grande com uns 5 metros que desenrascava perfeitamente.

Eu não via o elefante mas ouvi perfeitamente um grande urro, mau sinal, e de um momento para o outro o pessoal começar a dispersar e eu também não estive para perder tempo e chamei o meu pessoal para cima da dita pedra.
O elefante quando viu o pessoal a correr cada um para seu lado tomou, a opção de correr atrás do a opção de correr atrás dos dois primeiros, os meus amigos Santos – Lisboeta e o Azevedo-Transmontano.

No arranque inicial, os meus amigos ganharam alguma dianteira, mas quando a besta começou a ganhar embalagem, aquilo parece uma máquina dos comboios, depressa encurtou a distância e a determinada altura, quando os fugitivos viram que já tinham poucas hipóteses de se safarem, pararam, enfrentaram o bicho, e começaram a dispara rajadas para o ar.

O elefante teve medo do barulho e estacou e eles deram mais uns tiros para o ar e o animal acabou por embrenhar-se na mata, para alívio dos meus companheiros.
Juntámo-nos todos outra vez e aquilo foi um fartote, só o Santos e o Azevedo é que não gostaram da festa e ainda nervosos começaram a chamar-nos nomes, f...da p..., ca..ões, cobardes de m..., viam que o elefante ia dar cabo de nós e não fizeram nada e os nomes simpáticos não paravam e o pessoal ria-se, até que eu com ar de gozo lá rematei, é verdade sim senhor, nós somos uma cambada de m..., somos uns cobardolas, tivemos medo e fugimos do elefante, e vocês o que é que iam a fazer à frente dele, iam a ensinar-lhe o caminho? Nova risota e o caso ficou por ali.
A verdade é que o Santos naquela correria perdeu o chapéu que tanto trabalho tinha dado, corremos aquele capim todo e não o encontramos e então alguém meteu as culpas ao elefante que tinha roubado o chapéu ao Santos.

Mais tarde eles a contarem a reacção do animal quando eles bateram com o carregador na G3 é que foi bonito, oh pá aquilo até parecia coisa má, olhou para nós, abanou as orelhas, levantou a tromba, deu aquele urro qu até me ia mijando todo e então quando começou a correr para nós, nunca pensei que que me safasse, tinha logo que ser para mim e a malta gozava, é por seres bonito.
Não pensem que é fácil fugir de uma besta daquelas a pouco mais de uns 15 metros.
Tanto cuidado que tínhamos em não fazer barulho e acabámos por fazer um escarchel daqueles, e turras dessa vez, nem vê-los.


Loureiro/68

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