sábado, 6 de março de 2010

HISTÓRIAS DE MOÇAMBIQUE

Uma vez em Moçambique, mais propriamente na Missão de Nhassacara, superiormente gerido pela Irmã Teresa, teve a visita durante dois dias do Bispo da Beira e eu mais a minha equipa fomos destacados para a segurança de toda a comitiva e como não queria problemas, pelo sim e pelo não, dormíamos um em cada canto da casa e eu dormi à porta, mas na rua, ao mosquito.

Nhassacara, para além da missão católica e a cantina do Santos que ficava perto, não tinha mais nada e ficava mais ou menos a uns 200 Km a Sul de Tete.
Efectivamente, não era fácil gerir aquelas instalações a 50 Km Norte de Vila Gouveia onde estava estacionada a tropa.
A Irmã Teresa fazia de tudo, dava missa, era médica, enfermeira, dentista (a mim arrancou-me 2 dentes), professora e para além disso tinha um coração do tamanho do mundo.

Quantas vezes eu pensei para os meus botões: O que é que pode levar uma mulher com cerca de 30 anos, bonita, estar numa missão situada numa área com muitos leprosos.
Entre doentes e residentes ultrapassava largamente a centena de pessoas e não tinham o apoio de ninguém e as pessoas comem e bebem todos os dias.
Vila Gouveia era sede de concelho e tinha electricidade das 18H30 às 22H00, não havia Televisão e o telefone ainda era de manivela, na altura das queimadas, ardiam os postes e ficava isolada 2 ou 3 semanas e na missão simplesmente não tinha nem luz nem telefone.
Como haviam muitas emboscadas à coluna, porque naquela altura todo o tráfego rodoviário civil era feito com protecção militar, a coluna saía de Tete até Vila Gouveia e depois fazia o retorno com novo movimento, aquilo era uma zona operacional, não se andava como queria.
É certo que não foi sempre assim, outrora tinha sido um Paraíso, onde reinava a paz e o sossego, mas as condições eram as mesmas.

A Missão era também o Hospital dos turras, quando eram feridos pelas nossas tropas era ali que eles se iam curar, mas que podia ela fazer??? e nós que sabíamos disso muito bem e a melhor maneira de a ajudar era fechar os olhos e respeitar aquele espaço, sem o qual toda a população nativa num raio de 30 km podia passar.

Eu tinha muita consideração e respeito pela Irmã Teresa e não dispensava, quando passava perto, lhe fazer uma visitinha de cortesia e ver se ela estava bem, e ela sabia que eu era amigo dela e que podia contar comigo e presenteava-me sempre com um sumo de maracujá fresquinho como nunca mais pus os queixos em coisa igual.
África bruta onde até a papaia chamavam fruta.

Loureiro/68

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