sábado, 6 de março de 2010

Coisas do arco da velha
O frio era de "rachar" e o vento ao passar pelas águas da Ria de Aveiro ainda se tornava mais agreste.
Nestas condições, o que fazer para ajudar a passar o tempo??? logo surgiu uma ideia peregrina!!!, vamos comprar uma garrafa de brandy e vamos jogar às cartas para a minha Secção que tem lá um aquecedor a petróleo, que eu nem sei se aquela coisa trabalha mas a gente há-de descobrir, escusado será dizer que, se bem pensamos, melhor fizemos.
Por ali estivemos na jogatana, mas com o frio no corpo e a cabeça já quente pelo efeito da bebida, alguém alvitrou: Ó pá, liga lá a m.... do aquecedor, e aí é que estava o problema, porque eu não sabia como é que aquela coisa funcionava.
Como a minha profissão era torneiro-mecânico, logo me propus estudar o equipamento que me pareceu ter um princípio semelhante às máquinas a petróleo tão usadas nas cozinhas na década de 50, mas para mal dos meus pecados, havia uma portinhola que alguém se encarregou de estragar e por isso não abria.
Sugestões eram aos “montes” dadas pelos meus ilustres camaradas, mas infelizmente, para nossa “desgraça”, não tinham aplicação.
Com as minhas ideias malucas, porque cabia a mim pôr a geringonça a trabalhar, com um funil feito em papel, facilmente “atestei” a cuba de gasolina verde, restando apenas chegar-lhe o fogo e aí é que estava o busílis da questão.
Depois de muita “discussão”, resolvi passar à acção e atar um bocado de desperdício na ponta de um lápis, embebê-lo em gasolina, incendiá-lo, para depois com esta artimanha chegar à tal cuba já atestada.
Não queiram saber, porque a gasolina, sem que me tenha apercebido, escorreu para a minha mão, ao chegar fogo ao desperdício, a mesma começou a arder e eu num movimento instintivo, larguei o lápis para apagar o fogo da mão e por azar, o raio do lápis foi cair exactamente dentro da cuba do aquecedor, espilrando gasolina a arder por todo o lado.
Como o soalho era de madeira já muito antiga e todas as semanas as senhoras da limpeza o lavavam com a tal gasolina verde dos T6, peguei fogo à Secção.
Os meus camaradas piraram-se de imediato, e perante aquele cenário, a primeira coisa que fiz, foi mandar o malfadado aquecedor via aérea pela janela fora, depois despi o blusão, já do fardamento azul, e comecei a apagar o fogo com ele, e nestas coisas quando começam a correr mal, são uma atrás das outras, como o tecido era em polyester, começou também a arder e foi fazer companhia ao aquecedor, e quando já desesperado lá andava a bater o pé para apagar o fogo, reparei no dolmem, ainda da farda cinzenta, do Furriel Amanuense, dependurado na traseira da porta, ele era um dos resistentes que se recusava a vestir a farda azul e veio mesmo a calhar, foi com ele que, finalmente, consegui apagar o fogo.
Após uns momentos de reflexão, lavei o chão para eliminar os vestígios, voltei a arrumar a Secção que estava num caos, recoloquei o aquecedor no seu lugar e fui despejar o blusão e o dolmem longe dali.
Os meus camaradas, vim a encontrá-los na formatura do jantar, que depois do mesmo, foi uma acesa discussão que só não deu lambada porque eu não queria nem podia que aquilo se soubesse.
Quando o Furriel deu pela falta do dolmem é que foi o lindo e o bonito, “quem foi o F... da P... que me roubou o dolmem”, eu conheço-o, se apanho algum cab..., com ele vestido até lhe roo as orelhas, e eu calado que nem um rato, depois, quando estava estava mais calmo, lá lhe mandei a boca, se calhar você deixou-o noutro lado e não se lembra e agora está a tratar mal toda a gente. Palavras sábias, ele ateimava mas sem a mesma convicção e como tinha um ainda um blusão, passou à disponibilidade se vestir a farda azul.

Foi há 40 anos, como o tempo passa.
Oh Furriel Rito, se leres este artigo, perdôa-me, ficaste sem o dolmem por uma boa causa, naquela altura eu fiquei com medo de ficar sem orelhas, e tu estavas muito mau e por cima cheio de razão, podia ter sido pior.

Bom Natal, muitas prendinhas nos sapatos, e um Bom Ano de 2010, para todos os PA e suas respectivas famílias.

Loureiro/68

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