sábado, 6 de março de 2010

Coisas do arco da velha – Incêndio
Natal de 69-O frio era de "rachar" e o vento ao passar pelas águas da Ria de Aveiro ainda se tornava mais agreste.
Nestas condições o que fazer para ajudar a passar o tempo??? logo surgiu uma ideia peregrina!!!, vamos comprar uma garrafa de brandy e um bolo-rei e vamos jogar às cartas para a minha Secção que tem lá um aquecedor a petróleo, não sei se aquela coisa trabalha mas nós havemos de descobrir. Escusado será dizer que, se bem pensamos, melhor fizemos.
Por ali estivemos na jogatina, mas com o frio no corpo e a cabeça já quente pelo efeito da bebida, alguém alvitrou: Ó pá, liga lá a m.... do aquecedor, e aí é que estava o problema, porque eu não sabia como é que aquela coisa funcionava.
Como a minha profissão era torneiro mecânico, logo me propuz estudar o equipamento que me pareceu ser semelhante às máquinas a petróleo tão usadas nas cozinhas na década de 50 mas, para mal dos meus pecados, havia uma portinhola que dava acesso à tina do combustível de aquecimento da cabeça que alguém se encarregou de estragar e por isso não abria.
Sugestões eram aos “montes” dadas pelos meus ilustres camaradas, mas infelizmente, para nossa “desgraça”, não tinham aplicação.
Com as minhas ideias malucas, porque cabia a mim pôr a geringonça a trabalhar, com um funil feito em papel, facilmente “atestei” a cuba de gasolina verde, restando apenas pegar-lhe o fogo e aí é que estava o problema.
Depois de muita “discussão”, resolvi atar um bocado de desperdício na ponta de um lápis, embebê-lo em gasolina, incendiar aquilo pela parte de cima, único acesso à tal cuba.
Não queiram saber, porque a gasolina, sem que me tenha apercebido, escorreu para a minha mão, ao chegar fogo ao desperdício, fiquei com a mão a arder e eu para apagar o fogo da mão, larguei o lápis que por azar, foi cair exactamente em cima da cuba, espilrando gasolina a arder por todo o lado.
Como o soalho era de madeira já muito antiga, e todas as semanas as senhoras da limpesa o lavavam com a tal gasolina verde dos T6, peguei fogo à Secção.
Os meus camaradas piraram-se de imediato, e perante aquele cenário, a primeira coisa que fiz, foi mandar o malfadado aquecedor, via aérea, pela janela fora, depois despi o blusão já do fardamento azul e comecei a apagar o fogo com ele, e nestas coisas quando começam a correr mal, são uma atrás das outras, como o tecido era de polyester, começou a arder também, e foi fazer companhia ao aquecedor, e eu lá andava sozinho a bater o pé para apagar o fogo quando reparei no dolmem do Furriel Amanuense dependurado na traseira da porta e veio mesmo a calhar, foi com ele que, finalmente, consegui apagar o fogo.
Após uns momentos de reflexão e finalmente aliviado, lavei o chão para eliminar os vestígios, voltei a arrumar a Secção que estava num caos, recoloquei o aquecedor no seu lugar e fui despejar o blusão e o dolmem longe dali.

Os meus camaradas, vim a encontrá-los na formatura do jantar, que dep Os meus camaradas, vim a encontrá-los na formatura do jantar, que depois do mesmo, foi uma acesa discussão que só não deu lambada porque eu não queria nem podia que aquilo se soubesse.
Quando o Furriel deu pela falta do dolmem é que foi o lindo e o bonito, “quem foi o F... da P... que me roubou o dolmem”, eu conheço-o, se apanho algum cab..., com ele vestido até lhe rôo as orelhas, e eu calado que nem um rato e depois, quando ele estava mais calmo, lá lhe mandei a boca: se calhar você deixou-o noutro lado e não se lembra e agora está a tratar mal toda a gente.

Palavras sábias, ateimava mas sem a mesma convicção, ele gavaba-se que jamais vestiria a farda azul e como tinha um blusão cinzento, passou à disponibilidade se vestir o novo fardamento, era um resistente convicto.
Foi há 40 anos, como o tempo passa.
Oh Furriel Rito, se leres este artigo, perdôa-me, ficaste sem dolmem por uma boa causa, naquela altura eu fiquei com medo de ficar sem orelhas, e tu estavas pior do qu estragado e cheio de razão, o bandido fui eu.

Loureiro/68

Sem comentários:

Enviar um comentário