sábado, 6 de março de 2010

Boa noite, rapaziada PA
Loureiro (msg. # 292), grande máquina obrigado ! Essa foi boa, mesmo !
Aqui vai esta: numa determinada Base da Força Aérea, lá para a segunda metade da década de "80", estava eu, como GSCCD (Graduado de Serviço ao Centro Coordenador de Defesa, na época era assim designado), sózinho, de madrugada, na Sala de Operações e Controlo desse Centro quando, do silêncio à volta, ouvi um barulho de pesados passos apressados em aproximação, vindos do lado de fora do CCD.
Esbaforido, encarnado como um tomate, transpirado e com os olhos brilhantes de entusiasmo, entra-me pela sala um SOLD/PA (de nome Alves, se bem me recordo).
Estranhei porque, de acordo com os turnos de serviço, naquela altura da madrugada, o Alves estando escalado para um posto de serviço, não longe dali, deveria estar a descansar na Casa da Guarda e não acordado e bem desperto como se via. Naquela altura, até os gatos dormiam e até porque ele não era o tipo de "cumprir horários de rendição".....!
Bem, lá me foi dizendo que tinha permanecido, nas ultimas TRÊS horas, após ter sido rendido, a vigiar atentamente as movimentações de viaturas civis (e seus ocupantes) que, amíude, escolhiam a periferia sul daquela Unidade para as suas "consumações amorosas".
Ok, e daí? Daí, ele pretendia levantar os binóculos do CCD e, regressando ao seu posto de observação improvisado, utilizá-los para, assim, poder obter mais e melhor observação sobre os "ameaçadores alvos".
Fui-lhe dizendo logo que não ( até porque não me estava a apetecer dar grande atenção aquela situação tão frequente e quase diária, que ele descrevia e, bem assim, não me apetecia estar-lhe a alimentar os dotes "hiper-vigilantes", ao lhe emprestar os binóculos). Lá o convenci ( achei eu) a se ir deitar e tentar esquecer essas "operações de defesa nocturnas". De facto, ele lá se retirou, contrariado e denotando um profundo desalento.
Normalidade restabelecida, com o regresso do silêncio que naquelas horas se impunha, não me abandonava, contudo, a dúvida sobre se o Alves teria, realmente, efectuado o que lhe tinha dito.
Bom, se bem o pensei, melhor o fiz. Decorridos uns bons vinte minutos, lá acordei o 1CAB Controlador de Serviço, fi-lo substituir-me no CCD e lá fui eu, pé ante pé, verificar a cama do Alves. Óbviamente, esta estava vazia. Claro que só existiria uma outra leitura....e lá fui eu, para a periferia Sul da Unidade, tentando perceber o que (e onde) estaria o Alves a fazer.

Estava escuro como breu, caía uma geada cortante e, de facto, não estava lá muito agradável para o estabelecimento de "operações nocturnas" exteriores.
Realmente, lá estavam os habituais carros, do lado de fora da Unidade, junto à periferia e, pelo embaciamento dos vidros, fácilmente se adivinharia o que se desenrolaria no seu interior. Nisto, quando transponho uma vala,no meio do nada completamente às escuras, sem lanterna, aterro em cima de um corpo imenso, estranhamente macio, escuro (o Alves era um colosso e, então, envolvido com mais dois cobertores azuis, uma manta às riscas e casaco de abafo vocês imaginam) e imóvel, colado ao chão.

Ao tropeçar nele, quase desamparado, tinha acabado de o acordar de um sono profundo onde aquele infeliz, com todo o frio que se fazia sentir à volta, tinha acabado de mergulhar....como grande inconsciente que foi !
Não se lembrando (ou não querendo lembrar-se, tal era o entusiasmo de "observador periférico") que, naquele horário, já passava (e muito) da hora da rendição, tinha acabado por ser vencido pelo sono e, sózinho, deitado naquele solo gelado por ali ficara (e ficaria não fosse entretanto acordado) exposto a uma pneumonia (ou algo pior). Era Inverno agreste na época !

Claro que regressou ao CCD a "toque de caixa" e, para refrear os entusiasmos de "vigilante periférico" lá "papou" uma "bordada extra" no posto de serviço, para compensar o camarada a quem tinha dado "seca" na rendição.
Soube, por outros, mais tarde, que não serviu de nada uma vez que, durante um dilatado período de tempo, mesmo nas folgas, lá voltava ele para a sua "preferida missão de vigilância periférica" .....! Grande teimoso ! Mas rijo PA!! Pudera, era um transmontano dos duros !

Um grande abraço para todos os PAs

M.Calçada
SCH/PA

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