sábado, 6 de março de 2010

A nossa querida BA3

A PA “nasceu” em 1963 e em 1968 ainda era portanto, uma criança.
A BA3, tal como a conheci naquele tempo, era o que se chama hoje um Centro de Formação, ali era ministrada a instruçao de pilotagem de helicóperos, apoio à formação de paraquedistas com a velhinha esquadrilha de JU's, se é que se pode chamar assim, gloriosas máquinas voadoras feitas em chapa ondulada que na “força” do verão, por vezes “borregavam”, e os pilotos tinham que efectuar novamente as manobras de aterragem devido à grande envergadura das asas da aeronave conjugada com as correntes ascentes das massas de ar aquecidas pela alta temperatura da pista (era o que diziam os entendidos), formavam-se ali também , as especialidades do Serviço Geral.

Naquela altura era assim, cada macaco no seu galho, haviam os Especialistas e os outros, nada de misturas, por acaso eu andava misturado a partir do momento em que fui promovido a Cabo Milº., mas eu sabia muito bem qual era o meu lugar e que portanto, pertencia aos outros:

Os Especialistas, pessoal voluntário, técnicos das áreas ligadas à missão de vôo, com fardamento mais chique, verba superior para a alimentação (logo, comiam melhor), vencimento melhor, porque tinham 500$00 de prémio de especialidade em cima dos 90$00 de 1º.Cabo que era igual aos do Serviço Geral (estão a ver a diferença heinnn), não tinham bar mas sim um Club de Especialistas e pagavam quota e tudo.
E o Serviço Geral, pessoal oriundo do serviço militar obrigatório do exército, a maior parte deles apenas com a recruta tirada, vestidos com uma farda horrível daquilo que nós chamávamos de Pelo-de-Rato, com um blusão de méscla que nos fazia derreter com o calor do verão.

Para coriosidade, quando fui transferido para a Força Aérea o tempo eram 18 meses, quando esta a atingir os 18 meses, aumentaram para 24 e quando estava a atingir os 24, aumentaram para 36 e eu então tomei a decisão, vou-lhes fazer a vontade, vou meter o “chico” e vou continuar na tropa, depois virei o “bico ao prego” e arrependi-me porque gostava muito da vida militar, mas tive engenho e arte para me “desenrascar” por outro lado e não fiquei nada a perder, PA é assim mesmo.

Continuando, a BA3, como Centro de Formação que era, regra geral, formava por turno (que eram 4) 1 pelotão de Amanuenses, 1 pelotão de Condutores-Auto, 1 pelotão de Bombeiros, 1 pelotão de Clarins e 2 Companhias de Polícia Aérea (vejam a diferença) que eram os que tinham melhores condições de alojamentos, aliás, era a única camarata de rés-do-chão e primeiro andar.

Como é evidente, haviam muitos oficiais naquela base a quem nós batíamos educadamente aquela “palada” da ordem, mas a verdade é que, a maioria de nós nem sabia os nomes dos Comandantes, mas toda a malta sabia os nomes 3 ilustres Oficiais, os outros eram “paisagem”:
O Sr Capitão/PA- António Perestrello, agora Sr Coronel, que foi o Director do meu Curso de Sargentos Milicianos, homem impecável e sempre bem disposto,um apaixonado pelos explosivos, minas e armadilhas.

O Sr Tenente Tasso, aquela figura majestática que nos obrigava a traser a fivela e todos os metais bem ariados e nós, como caprixávamos, até os ilhós das botas raspávamos a tinta e esfregávamos aquilo com celarina, à maneira, para parecer bem.
O Sr Tenente Veiga Henriques, comandante da Instrução da Polícia Aérea, aquele homem era um “terror”, a brincar a brincar dava cabo da gente, nas suas visitas relâmpago às camaratas era um perigo, cama que não estivesse à sua maneira, a sentença estava dada, carecada pela certa e os outro cantavam (e tudo o vento levou, ououu, ououu) ao fim de 15 dias já o pessoal não tinha motivo para gozar porque se não tinham sido contemplados, a coisa estava por pouco.

Foram anos maravilhosos.

Em 1969 ou 70, foi uma “revolução” no fardamento, todo o mundo passou a andar fardado de azul, farda de verão, farda de inverno, sapatinhos, enfim, tinham acabado o privilégio de alguns, as diferenças mantiveram-se mas no fardamento éramos todos iguais, passamos a ser “filhos da mesma mãe”, e isso envaideceu-nos e muito.
A PA, no uso das suas competências, na Porta de Armas, ali estava para fazer a triagem, se não estava devidamente fardado, não deixava sair, e era bonito aparecermos em casa fardados à Força Aérea.
E com isso lá vão mais de 40 anos.

Um abração rapaziada

Loureiro/68

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