sábado, 6 de março de 2010

Coisas do arco da velha...

Fui ao baú das minhas recordações e lá estava mais uma estória da BA7-S.Jacinto.

Com o "nascimento" da Força Aérea, também o património da marinha ligado às coisas do ar foram transferidos para esta nova força.
Pelo que me lembro de ter visto por lá em qualquer lado, a BA7, era chamada pelos seus ex-proprietários por Escola de Aviação Naval Gago Coutinho, cuja pista para amaragem dos hidro-aviões era a Ria de S.Jacinto.
Após essa operação, as aeronaves eram puxadas através de uma rampa para o hangar, instalação essa que, por terem acabado esse tipo de aeronaves, foram transformadas nas oficinas de material terrestre.
Certo dia, penso que em 69, um condutor-auto resolveu estacionar um Land Rover na dita rampa e foi encher um balde com água da ria, possivelmente para lavar a viatura, o que por si só não era muito aconselhável por a água ser salgada.
O militar quando subia a rampa com o balde na mão, possivelmente porque a alavanca do travão de mão se tenha soltado por algum motivo, a viatura, apesar de engatada, dada a inclinação da mesma, começou a vencer a compressão do motor e começou a descer a rampa, aos "soluços", o pobre coitado com a aflição de querer fazer a mesma parar a sua marcha, virou o balde da água, escorregou, parece que uma das rodas lhe passou por cima dum pé, e ainda bem que isso aconteceu porque assim, evitou que o condutor acompanhasse a viatura para a ria.
Foi um desatinho naquela Base, depressa se espalhou a notícia que tinha caído um geep à ria e não se sabia se o condutor estava lá dentro.
Este facto novo, fez com que magotes de curiosos se deslocassem ao local afinal para nada, apenas para olhar para a água e mandar uns "bitaites".
Ao outro dia, a meio da manhã, chegou uma barcaça da Junta Autónoma do Porto de Aveiro com uma equipa de 3 especialistas com incumbência de "amarrar" um cabo à viatura para ser rebocada.
Aquilo foi uma cena digna de ser filmada, um dos homenzinhos ajudado pelos outros dois, vestiu um fato que parecia ser borracha, enfiaram-lhe na cabeça um capacete em bronze, calçaram-lhe umas botifarras que deviam pesar umas dezenas de quilos, puseram-se a dar à bomba, tudo OK, homem à água.
Eles deviam ter algum código porque junto com o tubo onde passava o ar também ia uma corda por onde eram transmitidos os sinais.

Estão a imaginar, mirones eram aos "montes".

O mergulhador lá devia ir dando os seus sinais, mas a determinada altura, correu qualquer coisa mal e o homenzinho dava sinais e mais sinais e os seus colegas davam corda e mais corda até que, a dado momento, a corda deixou de mexer, um dos homens da bomba começou a transmitir sinais com a corda e nada, não havia resposta, aflitos, toca de puxar o infeliz para a barcaça, tiraram-lhe o capacete e o pobre homem não dava sinal de si e todos pensamos, morreu.
Eram só "ordens" de terra, e a companha lá iam fazendo o que podiam para reanimar o infeliz e tantos maus tratos lhe deram que o "pobre" do mergulhador, aos poucos foi reagindo positivamente aos esforços dos seus companheiros.

Todos respiramos de alívio, da apreensão veio o sorriso e aqueles pobres coitados ouviram uma merecida salva de palmas, afinal o homem ainda estava vivo, tinha escapado.
Arrumaram os apetrechos, disseram-nos adeus e foram-se embora e nós também.
Ao outro dia, novo alerta, tinha chegado outra equipa, desta vez parecia uma tripulação do Calipso com o Comandante Cousteau a bordo, mergulhadores modernamente equipados com aparelhagem de respiração autónoma e foi um ápice, a operação durou poucos de minutos, um dos mergulhadores veio à tona, deu ordens para se iniciarem as manobras de rebocagem e a viatura lá veio devagarinho para terra.
De imediato os MMT procederam a lavagem com água doce, para depois fazerem a devida reparação.

Afinal era tão fácil, com mais um bocadinho de azar, a coisa tinha dado para o torto.

Oh camarada Monteiro, ouviste por lá falar desta passagem trágico-cómica???

Tenho família na Murtosa e no Verão estive no portão da Base, mas como estava à espera da lancha, não deu para mais nada, mas ainda fui ao Gato Preto mamar uma loirinha.

1 abração a toda a família PA

Loureiro/68

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