sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

BA6 VERÃO DE 1981

Numa noite de serviço,ao fim-de-semana, encontrava-se de Graduado de Serviço à UESD (Unidade Especial de Segurança e Defesa) o 1SAR/SG/PA Bernardino, sendo o 1CAB/MARME/PA Calçada o Cabo da Ronda Interna, juntamente com o SOLD/SG/PA Teixeira (Dona Xepa) e SOLD/SG/PA Gafanhoto (Long Dick) os restantes elementos da Ronda.
Como condutor de serviço, estava o 1CAB/MMT/PA Campos.
Pelas 23:30, o ODB manda comparecer no Gabinete dele o Cabo da Ronda e o GS-UESD (que se encontrava no alojamento, em "stand-by").

Motivo: tinha sido recebido um telefonema da Esquadra PSP de Alcantâra(Lisboa) informando que ali se encontrava detido, à espera de vir a ser entregue à força policial do ramo, um "muito perigoso individuo", militar, pertencente à BA 6 e sob o qual a PSP, após detenção efectuada por desacatos em via publica, tendo-o já identificando na Esquadra de Alcantâra e procedido à tramitação do correspondente auto, pretendia que fosse "entregue" à FAP, ficando a aguardar-se o posterior desenvolvimento do processo.
Bem, lá foram os acima identificados militares de serviço, num "jeep" UMM Cournil, fortemente armados e equipados, para Lisboa (Alcantâra), de imediato, para ali resgatarem o "muito perigoso militar".

Chegados à Esq.da PSP qual não foi o nosso espanto quando constatámos que o tal militar era o SOLD/SG/PA Cascais, do 1º pelotão que, ao ver-nos chegar, não conteve a alegria de o virmos buscar. Horas antes,tinha-se envolvido numa briga com outros paisanos, às portas de um bar, desancado uns tantos e sido, finalmente, posto na ordem por agentes da PSP, aos quais tb distribuiu uns "abraços",entretanto.
Após os procedimentos da praxe, lá acabámos por o colocar no Counil, cheio de juizo e começàmos a efectuar o nosso percurso de regresso à Base quando o "Xepa", atrevidamente,alegando o facto de morar ali perto, em Campo de Ourique, nos convida a todos para passar lá por casa e comermos uns chouriços que a mãe dele tinha acabado de trazer de Bragança, para ele.

Oh, aquilo sou a "harpas celestiais tocando" para o grupo e o 1SAR Bernardino logo confirmou ao Campos que se dirigisse para casa do "Xepa". O problema eram as armas que transportávamos, o carro que, contendo equipamentos diversos, não podia ser fechado, pois não tinha capota e o facto do "Cascais" estar num estado de apresentação que poderia chocar, fácilmente, a esposa e os filhotes do "Xepa". Depois de muita cogitação, decidiu-se que as armas ficariam conosco mas o "Cascais" ficaria dento do "jeep", a tomar conta do mesmo e dos equipamentos, no seu interior. Sem algemas,pq não parecia ser sua intenção escapulir-se. De facto, não foi.

Três horas depois, ao regressarmos à viatura, já de "papo cheio" com os deliciosos manjares que a mãe do "Xepa" nos tinha proporcionado, claro que traziamos uma generosa porção deles para o camarada "Cascais", tb saborear. Este, lá estava, no "jeep", à nossa espera e dormindo angelicalmente. Já na base, quando acordou, nem queria acreditar que nos tinhamos lembrado dele e atirou-se ao que lhe trouxemos com apetite de leão, podendo ler-se um reconhecimento sentido nos seus olhos. Não mais me esqueci disso. De vez em quando, ao encontrar o "Xepa", lá vem à memória esta recordação do tal "perigoso individuo".......E ainda há quem diga que nós, os PAs, não temos espirito de entre-ajuda e apoio mutuo? Pois, pois.........


SCH/PA Manuel Calçada

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