sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

BA1 1987

Decorria o mês de Fevereiro. A equipa que iria representar a EPA da BA 1, na competição inter-EPAs "VA 87" (Vigiar e Actuar 87) aprimorava a sua boa forma fisica e forte condição psicológica....Naquele ano, os "eleitos" eram o 2SAR/PA Calçada, 1CAB/PA Costa, SOLD/PA Fragoso, SOLD/PA Almeida. Tudo gente muito motivada, de entrega generosa, no expoente máximo da "operacionalidade inconsciente"....enfim...!!! O treinador: TEN/PA Maia dos Santos.

Objectivo: VENCER!!! SERMOS OS MELHORES !! Levar o troféu para a EPA da BA 1.

Assim, os rigorosos treinos sucediam-se em multiplas pistas de obstáculos, pistas de cordas, corridas diversas, mais ou menos longas, com e sem equipamento individual de combate, tiro de G3, calestenias diárias, marchas (seriam mais corridas..) topográficas, treino de utilização do morteiro 81 ( como prova estreante para aquele ano), GAMs, muitos camuflados rasgados, alguns hematomas e arranhões, dieta controlada, sono e descanso qb, "lavagens ao cérebro" constantes.....mas, ACIMA DE TUDO,ninguém podia falhar individualmente ou, em alternativa, todos teriamos de falhar!!! Como um todo.

Foi assim que, numa tarde véspera de fim-de-semana, o treinador decide levar os eleitos para um "treino em altitude", na Serra de Sintra, com todo o equipamento e armamento a que tinhamos direito. Numa das fases da preparação, fazia parte atravessar, suspensos numa corda esticada sobre larga depressão de terreno, a cerca de cinco metros de altura, uma vasta extensão de densas silvas e mato serrado, qual mar ondulante e "acolchoado" sobre o qual teriamos de progredir no terreno.Passou o primeiro do grupo, passou o segundo, passou o terceiro e, quando já se pensava que a equipa tinha ultrapassado (mais) um obstáculo, eis que o quarto e ultimo elemento, sem o poder evitar, escorregando-lhe ambas as mãos e pés (da corda salvadora) se afunda, em vôo picado, nas silvas e pontiagudos arbustos logo abaixo. A queda foi amortecida pelo denso emaranhado de ramos e espinhos. Felizmente, não se registou nada de grave. Nada partido, nada torto.

O homem logo se colocou de pé, um pouco contundido mas com o orgulho próprio muito ferido, pois claro.Apenas que o desgraçado parecia um "cristo", cheio de esfolões, arranhões e muitos, muitos espinhos cravados na pele....pois quase parecia uma almofada de alfinetes. De entre os restantes, logo assomou a questão: e agora, o que fazer? Se chegamos ao "ponto de encontro" com o X, assim, neste estado sem nós apresentarmos qualquer tipo de semelhante "tratamento" ou ele passa a ser a "chacota" da Esquadra ou, então, fomos nós que não o soubemos ajudar.....Breves segundos de angustiante duvida assaltaram o grupo....eis senão quando um dos outro três,qual "mente iluminada" resolve (aaahhhh....jovem inconsciência)...).....lançar-se, ele próprio, para o "mar" de silvas e espinhos, ali embaixo, utilizando a corda suspensa como rampa de saltos.......e, claro que os outros dois, primeiro estupefactos com aquilo e, logo de seguida, solidários com o gesto individual presenciado logo se apressam a seguir o "mergulhador inconsciente".....

Costuma dizer-se que "a sorte protege os audazes..". Bem, neste caso, seria mais: " a sorte protege os inconscientes". Jovens, generosos...mas muito, muito inconscientes. Quis o acaso que, desta experiência colectiva, não restassem aleijões ou outro tipo de contusões. De facto, a unica coisa partida foi a coronha, em baquelite, de uma das G-3. O resto do percurso, na prova, foi efectuado não por um, mas sim por quatro orgulhosos e solidários "cristos", que mais pareciam "almofadas de alfinetes". Ao vê-los neste preparo, o treinador não teve outra alternativa do que mandar a equipa para casa, de fim-de-semana, mais cedo do que o esperado, para descansar e recompôr. Mas, entre os quatro elementos daquele grupo, ficou algo que jamais se destruiu e que todos mantêm, muito vivo, em si próprios......e não, naquele ano, não troxemos o troféu do VA, para a BA 1 !!!

Mas sentimo-nos recompensados.

SCH/PA Manuel Calçada

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